O não cumprimento da Diretiva da UE relativa à proteção dos denunciantes pode ter graves consequências legais, financeiras, de reputação e operacionais para as organizações.
Estas consequências vão desde coimas e sanções legais a danos na reputação da organização e na moral dos colaboradores.
Eis as principais consequências que as organizações podem enfrentar se não cumprirem a diretiva:
1. Consequências legais
O não cumprimento da diretiva pode levar a sanções legais diretas impostas pelas autoridades nacionais.
Os Estados-Membros da UE são responsáveis pela transposição da diretiva para a legislação nacional e cada Estado pode estabelecer os seus próprios mecanismos de aplicação e sanções em caso de infração.
Coimas e sanções:
- As empresas que não implementarem sistemas adequados de proteção de denunciantes podem enfrentar multas ou sanções impostas pelas autoridades reguladoras.
- Estas coimas podem variar consoante a gravidade do incumprimento e a regulamentação nacional.
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- Exemplo: Alguns países podem impor coimas significativas a empresas que não estabeleçam mecanismos de comunicação interna ou que não protejam os denunciantes de retaliações.
Contencioso civil:
- Os denunciantes que sofram retaliações devido ao incumprimento da diretiva por parte de uma organização podem intentar uma ação judicial contra a sua entidade patronal.
- Isto pode levar a ações judiciais, pedidos de indemnização e acordos que podem ser financeiramente prejudiciais.
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- Exemplo: Os funcionários que forem despedidos, despromovidos ou sofrerem qualquer outro tipo de retaliação depois de terem feito uma denúncia podem intentar uma ação judicial por despedimento sem justa causa ou discriminação.
Responsabilidade criminal:
Em casos extremos, quando a denúncia envolve a comunicação de um comportamento criminoso, o incumprimento pode levar à responsabilidade criminal da organização ou da sua direção, se não atuarem de acordo com a denúncia do denunciante ou tentarem encobrir uma infração.
2. Danos à reputação
O impacto na reputação do incumprimento da diretiva relativa às denúncias pode ser devastador para as organizações, especialmente se os casos de má conduta ou de retaliação contra os denunciantes se tornarem públicos.
Erosão da confiança pública:
- Se um denunciante vier a público ou se os meios de comunicação social noticiarem que uma organização não protegeu um denunciante, isso pode prejudicar gravemente a reputação da empresa.
- Esta erosão da confiança pode afetar a lealdade dos clientes, a confiança dos investidores e as relações com as principais partes interessadas.
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- Exemplo: Um caso de grande visibilidade de um denunciante numa instituição financeira, que revele más práticas e falta de proteção para os funcionários que manifestaram preocupações, pode levar a uma queda no preço das ações e a levantamentos de clientes.
Perda de negócios:
- As empresas que são vistas como antiéticas ou que não protegem os denunciantes podem perder negócios, especialmente com clientes que priorizam a responsabilidade social corporativa (CSR).
- Atualmente, muitas organizações e investidores têm normas éticas e de conformidade rigorosas e o incumprimento das leis de denúncia de irregularidades pode levá-los a cortar relações.
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- Exemplo: Os contratos do sector público ou as parcerias com empresas socialmente conscientes podem ser postos em causa se uma empresa for vista como não cumpridora das proteções dos denunciantes.
Cobertura negativa dos media:
- A atenção dos meios de comunicação social em torno de um escândalo de denúncia pode exacerbar os danos à reputação, especialmente se destacar o facto de a organização não ter cumprido os requisitos legais.
- Este facto pode provocar danos a longo prazo na imagem da marca e na sua posição no mercado.
3. Consequências financeiras
Para além das coimas e sanções legais, os custos financeiros do incumprimento podem ir muito além das sanções legais imediatas.
Perda de investidores e acionistas:
- Os investidores e acionistas estão cada vez mais concentrados nos critérios ambientais, sociais e de governação (ESG) ao avaliarem as empresas.
- O não cumprimento das leis de proteção dos denunciantes pode ser um sinal de má governação, o que pode levar ao desinvestimento e à perda de valor para os acionistas.
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- Exemplo: Os investidores podem retirar o apoio ou exigir mudanças na liderança se a empresa for vista como não cumprindo os padrões éticos ou não protegendo os denunciantes.
Acordos em processos judiciais:
- Se os denunciantes instaurarem processos judiciais por retaliação ou maus-tratos, as organizações podem ter de enfrentar acordos dispendiosos, que podem envolver não só a indemnização do empregado, mas também honorários legais, danos e o custo de restabelecer a posição do denunciante.
- Exemplo: Uma empresa multinacional pode enfrentar processos judiciais de vários milhões de euros se vários denunciantes denunciarem retaliações sistémicas ou violações da proteção dos denunciantes.
Maior controlo regulamentar:
- O não cumprimento da diretiva pode levar a um maior escrutínio por parte das entidades reguladoras, exigindo que as empresas dediquem mais recursos a auditorias de conformidade, investigações e esforços de correção.
- Exemplo: As autoridades nacionais podem impor auditorias adicionais ou medidas de monitorização às organizações que não cumpram a diretiva, aumentando o custo do negócio e desviando recursos de outras iniciativas.
4. Consequências operacionais
O não cumprimento da diretiva relativa aos denunciantes pode perturbar as operações internas de uma organização, em especial se as queixas dos denunciantes não forem tratadas de forma eficaz ou conduzirem a conflitos internos.
Perturbação interna:
- A retaliação do denunciante ou o tratamento incorreto das queixas pode criar um ambiente de trabalho tóxico.
- Os funcionários podem perder a confiança na liderança da organização e ficar desmotivados, o que leva a uma diminuição do moral, redução da produtividade e maior rotatividade.
- Exemplo: Os colaboradores podem recear retaliações e recusar-se a comunicar preocupações, levando a problemas não resolvidos que podem piorar com o tempo, como fraudes, assédio ou violações de segurança.
Perda de talentos:
- As empresas que não protegem os denunciantes arriscam-se a perder os melhores talentos.
- Os funcionários que testemunham retaliação ou uma falha na resolução de preocupações podem procurar emprego noutro lugar, particularmente em organizações que enfatizam a transparência e o comportamento ético.
- Exemplo: Os colaboradores com elevado desempenho podem abandonar a empresa se virem que os seus colegas são punidos por levantarem preocupações, o que conduz a uma fuga de cérebros e a uma perda de conhecimentos organizacionais.
Quebra dos mecanismos de comunicação:
- Se os colaboradores não confiarem no sistema de denúncia de irregularidades ou recearem retaliações, podem optar por não denunciar comportamentos pouco éticos ou ilegais.
- Este facto pode impedir a gestão de resolver os problemas numa fase inicial, conduzindo mais tarde a escândalos maiores e mais prejudiciais.
- Exemplo: Uma empresa que não proteja os denunciantes pode descobrir que os funcionários já não denunciam problemas internamente, o que leva a escândalos públicos maiores ou a intervenções regulamentares quando os problemas aumentam.
5. Consequências culturais e éticas
O não cumprimento da diretiva relativa à denúncia de irregularidades mina a base ética da empresa e contribui para uma cultura negativa no local de trabalho.
Erosão da cultura ética:
- Sem uma proteção eficaz contra denúncias, os colaboradores podem sentir que as preocupações éticas são ignoradas ou que o comportamento não ético é tolerado.
- Isto pode resultar numa cultura em que a má conduta floresce e não é denunciada, prejudicando ainda mais a integridade da organização.
- Exemplo: Nas indústrias em que o cumprimento das normas de segurança ou dos regulamentos ambientais é fundamental, ignorar as preocupações dos denunciantes pode conduzir a violações sistémicas e a uma decadência ética a longo prazo.
Redução da confiança dos funcionários:
- Os colaboradores que não se sentem seguros para comunicar as suas preocupações ou que vêem que a empresa não leva as suas queixas a sério perdem a confiança na gestão.
- Esta situação pode levar ao desinteresse, ao ressentimento e a um declínio geral na lealdade dos colaboradores.
- Exemplo: A longo prazo, a falta de confiança no processo de denúncia de irregularidades pode fazer com que os colaboradores se abstenham de apresentar preocupações legítimas, o que pode permitir que problemas como a fraude, a discriminação ou o assédio se agravem.
Conclusão
O incumprimento da Diretiva da UE relativa à proteção dos denunciantes pode ter consequências graves e de longo alcance para as organizações.
As sanções legais e financeiras são apenas o começo, uma vez que as empresas também correm o risco de sofrer danos a longo prazo na sua reputação, perturbações operacionais e um declínio na cultura do local de trabalho.
Para evitar estas consequências, as organizações devem dar prioridade à implementação de políticas abrangentes de denúncia, garantindo que os colaboradores se sintam seguros para comunicar as suas preocupações e protegendo ativamente os denunciantes de retaliações.
Estas medidas não só ajudam as empresas a cumprir a lei, como também promovem uma cultura de trabalho ética, transparente e inclusiva.
Ao compreender e implementar estes aspetos chave da diretiva, as organizações podem criar um ambiente mais seguro e transparente que promova a confiança e a integridade, mantendo-se simultaneamente em conformidade com a lei.
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Publicado em: 2024.11.28